segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Setor imobiliário deve passar por momento de turbulência

Cláudio Marques, de O Estado de S. Paulo



Mas previsão do presidente do SindusCon, Sérgio Watanabe, é de que fase será breve

15 de agosto de 2011 | 15h 39





SÃO PAULO - Quando organizaram o 83º Encontro Nacional da Construção (Enic), os membros do Sindicato da Construção de São Paulo (SindusCon-SP)e da Câmara Brasileira da Construção (CBIC) não poderiam imaginar que o maior evento do setor, realizado de quarta a sexta-feira passadas, fosse ocorrer em meio a uma crise mundial que causa apreensão nos meios econômicos por todo o globo. No mercado imobiliário local, embora haja o consenso de que o Brasil vai sofrer com menos rigor os efeitos desse momento, a preocupação está na possibilidade de o panorama de crise influenciar a decisão de compra das famílias.
O presidente do SindusCon-SP, Sérgio Watanabe, prevê um momento de turbulência. "É claro que a crise sempre vai afetar o nível de confiança da população. No meu discurso de abertura do Enic, com a presença do governo, disse ser preciso combater a crise de forma que o investidor nacional e internacional e as famílias não percam a confiança na atitude de comprar, porque aí se retrai na decisão de compra, principalmente de imóvel. O setor vai passar por um momento de indefinição, de turbulência. Então, a decisão de comprar vai depender muito de como a crise afeta a economia brasileira", afirma Watanabe.
Ele acrescenta: "A questão da confiança é percebida de maneira diferente nas classes sociais. Quem tem aplicação no mercado financeiro é o primeiro a estar preocupado com a crise financeira. A classe C e a D que está indo para a C não estão muito preocupadas. Seus integrantes têm a percepção de que o País vai crescer e de que eles não vão perder o emprego. O trabalho ameaçado é o que mais afeta a decisão de compra".
Sócio fundador da construtora MZM - que atua no ABC -, Francisco Diogo Magnani acredita que o consumidor adie a decisão de compras num primeiro momento. "É o choque inicial. É natural que isso aconteça nos primeiros dias", afirma. Ele entende, porém, que se trata apenas de um momento de transição. "Tanto que estou tocando meus negócios."
O presidente do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), João Crestana, diz que o momento é de muita ponderação. Mas, como o Brasil está muito voltado para seu mercado interno, acredita ele, logo o brasileiro vai perceber que seu emprego continua garantido e que os juros podem até nem aumentar mais. Assim, sustenta, a tendência é que o setor imobiliário seja pouco afetado.
Ele acredita que nem mesmo a ação de eventuais especuladores - que poderiam se refugiar nas aplicações de imóveis em consequência da volatilidade na bolsa - possa afetar o mercado, influenciando nos preços. "São dois, três pontos porcentuais de nosso mercado. A grande maioria está comprando para morar ou para instalar pequenos negócios", diz Crestana.
Mais fundos. Há, no entanto, quem aponte um crescimento no mercado de fundos imobiliários. Diretor da Brazilian Mortgages, Vitor Bidetti lembra que a volatilidade alta do mercado de ações beneficia os fundos imobiliários. Ele afirma que esse tipo de fundo já se valorizou cerca de 20% neste ano. E, sem citar números, diz que a procura aumentou um pouco após o rebaixamento da nota da dívida dos Estados Unidos.
Bidetti, porém, não crê em retração nas compras. "Não há movimento brusco de pessoas postergando a decisão de comprar a casa própria. Não de maneira relevante." A Brazilian Mortgages estrutura fundos imobiliários e administra um portfólio de mais de R$ 5 bilhões.
Estabilização. Professor da Real Estate da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), João da Rocha Lima Júnior diz que o Brasil tem possibilidade de sofrer um impacto amortecido como resultado da contração das economias nos Estados Unidos e Europa. Neste caso, a demanda por imóveis no Brasil poderá se manter. "Mas não a preços que cresçam todos os dias."
Para ele, a curva de crescimento de preços está mostrando sua última face, "que é a reorganização do tamanho do produto". "Nos últimos seis meses, saiu-se de uma oferta de imóveis de 3 e 4 dormitórios para imóveis de 2 e até 1 dormitório ou para imóveis muito pequenos. Isso significa acomodar no bolso do comprador um produto que tem algum dos seus anseios."
Segundo o professor da USP, a situação mostra que as empresas tiveram que readequar produto para se encaixar nos seus mercados, porque os preços, diz ele, estão subindo muito acima da renda dos compradores. Por tudo isso, Rocha Lima acredita que a crise poderá acelerar um movimento de estabilização de preços.